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Luxação anterior primária do ombro: prognóstico a longo prazo na idade de 40 anos ou mais

Nos últimos 40 anos, sairam muitos estudos sobre prognóstico da luxação glenoumeral, porém, a maioria retrospectivo, ou com limitações (ex: feito com militares ou atletas).
Um terço dos pacientes com luxação glenoumeral primária não vão ao hospital, portanto nunca serão incluidos em estudos de prognóstico. Este estudo foi realizado com pacientes que foram ao hospital na luxação primária, independentemente da etiologia, e com grau de laxidão desconhecido.

Métodos

Em 1978, foi iniciado este estudo, prospectivo multicêntrico, em 27 hospitais suecos (coleta em 1978 e 1979). Foram incluidos 255 pacientes, 259 ombros, de 12 a 40 anos. 226 luxações anteriores foram reduzidos no hospital, enquanto 31 foram reduzidos antes de chegar ao hospital. o seguimento ocorreu após 2 anos, 5 anos, 10 anos, 25 anos, sendo que no periodo de 25 anos de acompanhamento, 28 pacientes morreram.
Após a redução, os pacientes foram tratados com:

Grupo 1: 112 ombros: 3-4 semanas de tipóia (minimo 21 dias)
Grupo 2: 104 ombros: tipóia até o paciente sentir-se confortável
Grupo 3: 41 ombros: não se encaixavam nos outros grupos.

De 2003 a 2005, foi realizado o seguimento após 25 anos da primo-luxação, em 229 ombros:
223 (97%) realizaram radiografia, 216 completaram DASH score

Os pacientes foram divididos em 6 categorias:

→ Sem recorrência
→ Sem recorrência mas instável subjetivamente
→ 1 recorrência
→ >= 2 recorrências
→ Estabilizado cirurgicamente
→ Curado ou estabilizado com o tempo (sem recorrência nos últimos 10 anos)*

Resultados

A imobilização após a luxação anterior por 3-4 semanas não tem nenhum impacto no prognóstico, em 2, 5, 10 e 25 anos. Não há correlação entre gênero e recorrência. Assim como há o mesmo prognóstico nos diferentes níveis de envolvimento em esportes.
Dos pacientes com instabilidade anterior que foram submetidos a cirurgia (62), 27 realizaram a cirurgia de Bristow-Latarjet, 7 Eden-Hybbinette, e 28 realizaram o reparo partes moles. Com relação ao resultado, excluindo os alcoólatras, não houve diferença entre bloqueio ósseo e reparo partes moles.
O escore de DASH não variou significativamente em pacientes com ou sem artropatia em 10 anos de seguimento. Porém, com 25 anos, ombros com artropatia grave tinham piores DASH scores comparados com os outros grupos (p=0.001).

Conclusão

A imobilização não muda o prognóstico a longo prazo, e o prognóstico com relação à recorrência é melhor conforme idade maior na primo-luxação.
Com 10 anos de seguimento, 49% dos pacientes com 2 ou + luxações aos 2 e 5 anos, estabilizaram espontaneamente. Com 25 anos de seguimento, este número subiu para 65%. Este resultado nos mostra que, se operássemos todos os ombros com instabilidade, 40% dos ombros dos pacientes com 12-16 anos e 60% dos ombros dos pacientes com 23-35 anos teriam sido submetidos a cirurgias desnecessárias. A artropatia moderada a grave aumentou de 9% (10 anos) para 26% (25 anos), e todos os ombros de alcoólatras tiveram artropatia grave em 25 anos. Dos pacientes que só luxaram 1 vez, 17% tiveram artropatia mod-grave, e 32% leve, indicando que a luxação per se está associada com artropatia (49%). Dos operados, 21% tiveram artropatia mod-grave, e 19% leve (40%). Estes números são menores do que os que estabilizaram com o tempo ou que ainda estão recorrentes. Pacientes que tiveram luxação primária com <25 anos teve menos artropatia do que em pacientes >25 anos. Esportes traumáticos causando a primo-luxação tem maior chance de levar a artropatia mod-grave do que esportes não traumáticos, o que significa que o trauma que causou a primo-luxação é responsável pela artropatia. Ombros com fratura da grande tuberosidade tiveram um prognóstico significativamente melhor em todas as idades e em todos os acompanhamentos. “Não sabemos se os pacientes jovens teriam um prognóstico melhor com relação a artropatia e melhora da qualidade de vida se tivessem sido submetidos a cirurgia após a primo-luxação. O que sabemos é que um número razoavelmente grande teria sido operado desnecessariamente”.

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